20090220

Darmok

Essa semana eu vi um dos episódios mais notáveis de Star Trek, A nova geração. O episódio 2 da 5a. Temporada, intitulado “Darmok”. Genial, em resumo, genial. Impressiona-me como algumas coisas são bem boladas.

Eis o que acontece.
A Enterprise se encontra com a nave dos Tamorianos, um raríssimo encontro, pois foram relatados encontros entres eles e as naves da Federação apenas 7 vezes em 100 anos. Em todos os encontros foram relatadas a completa impossibilidade de comunicação com a espécie, mesmo com a experiência da Frota Estelar em contatar novas raças por séculos. Os primeiros momentos do encontro se tornam tão infrutíferos quanto os relatados, pois os Tamorianos, embora usem palavras em inglês em suas frases, estas são ininteligíveis. O que acontece (já entregando o jogo): os tamorianos falam através de metáforas. Cada frase deles é baseada em um acontecimento e a idéia desse acontecimento define o que eles querem dizer. Um exemplo usado no episodio com referencias terrestres é “Julieta em sua janela” representando a idéia de amor, paixão. Porem os tamorianos usam figuras de sua mitologia para formular estas metáforas, e embora falem em inglês, usam nomes próprios referentes à metáfora em questão. Um exemplo é: “O Rio Tarmac. No inverno” Isto é falado pelo capitão tamoriano quando ele quer dizer “Silencio!”, ao longo do episodio outras frases são usadas, as quais listo abaixo com suas possíveis interpretações:

Rai e Jiri em Lungha - paz entre nos

Rai de Lowani. Lowani sob duas luas. Jiri de Ubaya, Ubaya na encruzilhada de Lungha. Lungha, a do ceu cinza. – Provavelmente a explicação de onde eles vieram

Kadir sob Mo Moteh. – tradução: não entendi
O rio Termac. No inverno. – É uma ordem, silencio

Shaka. Quando os muros caíram. – Falhar
Zima em Anzo. Zima e Bakor. – Negociação
Mirab, suas velas despregadas. – Vamos embora
Darmok e Jalad em Tanagra. – Realizar uma caçada juntos, a fim de promover o entendimento

Temba, seus braços abertos. – Tome, receba

Uzani, seu exercito em Lashmir – estratégia de espalhar-se e reagrupar-se para atacar

Uzani, seu exercito com a mao aberta – espalhar-se, separar-se
Uzani, seu exercito com a mao fechada – reagrupar-se
Sokath! Seus olhos abertos! – Entendeu, compreendeu
Os filhos de Kiazi, suas caras molhadas - vou ficar bem/não se preocupe
Zinda! Sua cara negra, seus olhos vermelhos... - dor, morte
Callimas. Em bahar. - tudo bem, calma
Kira em Bashi - conte-me, quero ouvir
Temba, descanse em paz - pode ficar, é seu

Simplesmente brilhante a maneira que eles usam esta idéia de comunicação ao longo do episodio e a maneira com o que o capitão tamoriano faz-se entender por Picard. Ele usa o que se chama Darmok, ou usando a frase completa, Darmok e Jalad, em Tanagra. É uma referencia a estória de Darmok, que foi a ilha de Tanagra e la encontrou Jalad, juntos eles eliminaram a besta de Tanagra, se tornando amigos e partindo juntos. A idéia do capitão tamoriano era que o Darmok ajudasse ambas as espécies a se entenderem, sendo ele e Picard Darmok e Jalad, caçando uma besta em um planeta próximo ao lugar onde as duas naves estão. Ate Picard entender isso... Leva aquele infinito tempo esse tipo de episodio leva, mas acontece, Picard sai entendendo basicamente a lista acima, embora o capitão Tamoriano morra no ato do Darmok. O que me impressionou foi a abstração das idéias usadas… Fazem tanto sentido quando se entende como funciona, mas a principio é totalmente alienígena, principalmente por causa dos nomes próprios.

Adorei esse episodio, acho que já vi três vezes!
E nesse ínterim, acabei relacionando com as coisas que vivo. Um exemplo do que seria essa linguagem tamoriana de forma escrita são os kanjis, os caracteres chineses que também são usados pelos japoneses. Cada kanji tem uma leitura (ou varias) e representa uma idéia. Os kanjis mais complexos são formados de vários outros, sendo, portanto o agrupamento de varias idéias, e as palavras normalmente juntam vários kanjis, mas na maioria das vezes formando uma idéia completamente diferente do sentido original individual dos kanjis. Então, o problema dessas idéias é que elas são abstratas, bastante, e provem dos conceitos chineses sobre forma e natureza dos objetos. Essas idéias embora sejam coerentes quando apresentadas com modelos comparativos, são ininteligíveis a primeira vista. Mais ou menos o mesmo caso dos tamorianos, só que escrito. Outra coisa que também é assim são algumas gírias e frases-feitas, referentes a situações especificas, sempre de conhecimento dos falantes, mas com uma explicação necessária para sua total compreensão. Aqui vai um bom exemplo: “No mato sem cachorro” que se refere ao ato da caca sem a ajuda de um cão, o que torna difícil localizar a presa. O sentido principal é “em dificuldades”. Sem o pano de fundo da idéia de caca, fica difícil entender qual a utilidade de um cão a estar na floresta com a pessoa.

Longe de querer escrever um ensaio sobre linguagem (anos-luz da minha área) mas achei interessantíssimo e se tiver oportunidade, assista esse episodio!


Lt. Alex
USS Traveller NCC 1901

PS.: Acabei de ver num site que tem uma banda chamada Darmok and Jalad at Tanagra... Sera que sao trekkers? :D

Um comentário:

Jimmy Christyan disse...

Muito legal você ter relacionado aqui as metáforas utilizadas neste episódio !
Eu também adorei ele.
Aqui em casa de vez em quando eu e meu filho utilizamos estas frases.
Vida Longa e Próspera.