20090723

Yokohama

O corpo dela se espalhou preguiçosamente pela minha cama de solteiro. A pele branquíssima, típica dos povos de países frios a maior parte do tempo. Momentos de felicidade terríveis, mas sem avançar mais do que o que já se tinha avançado. A consciência pesou e deixamos de nos entregar a febre da carne...

No dia seguinte eu acordo em um cyber-café, que aqui funciona também como uma espécie de hotel baratíssimo, por que tem cabines onde se pode deitar. Barato, prático. Yokohama. 8 horas de um ônibus extremamente desconfortável depois, estou em um cyber-café perto da Estação Yokohama, a estação principal da 3a. maior cidade do Japão. Saio ainda sonolento e com o pescoço em frangalhos e tomo o rumo à estação. Ao chegar perto do local do Festival, encontro uma rede de comida japonesa conhecida, comida barata, rápida, nem tão saudável mas ao menos melhor que McDonalds ou Mr. Donut.

O Nano Mugen Festival é organizado pelos caras da Asian Kung-fu Generation, a única banda japonesa que tem meu completo respeito. Esse ano não vou pro Fuji Rock por que só tem o Franz e o Weezer, como já vi o Weezer, não vale a pena se deslocar tão longe por causa de uma banda. Então vim pro Nano. E Yokohama é perto de Tokyo por sinal...

O grande motivo mesmo foram eles: Nada Surf. Uma hora de show e fiquei feliz, muito feliz. Eu escuto esses caras desde meus 15 anos, desde que comecei a escutar rock. Só falta o Superchunk agora.

O Festival também tem outras coisas interessantes, Hard-Fi (razoável, banda nova), Young Punx (muito bom, me surpreendi). O Manic Street Preachers cancelou, mas tudo bem. As bandas japas... Só o Asian. Eles são os únicos que não ficam fazendo performances exageradas e tem um rock realmente decente, nada dos típicos fabricados que nem merecem ser citados aqui.
O festival acaba e vou pra Sakuraguicho, perto do porto. Dou uma volta na maior roda-gigante do Japão, sozinho mesmo, tirando muitas fotos e ficando com medo de altura.

Acordo de novo no cyber-café. São 7 da manhã. Resolvo caminhar, chego de novo na roda-gigante mas não vou lá, sigo o caminho do porto e a brisa do mar começa e me deixar preguiçoso. Sento em um banco perto de um prédio histórico todo feito de tijolos vermelhos e termino de ler Diary, do Chuck Palahniuck. Não é muito bom. Percebo que com o sol morno ganhei um bronzeado, sigo o cais e tiro muitas fotos. Algo me inquieta. É ela.

Yamashita Park, Chinatown e de volta para Estação Yokohama. Eu adoto uma tática. A cada hora de caminhada eu paro e leio o livro. Ou escrevo. E assim as frações de tempo necessárias para eu voltar no ônibus noturno vão passando. Desisto de ir à Tokyo, estou sem humor. Não sei por quê.

E então entendo... Estou de coração partido. Subitamente entendo. Aquelas mãos brancas e macias, aquela respiração soltando algumas palavras em inglês com sotaque carregado de erres. Nada disso será para mim. Não pode, não deve. Talvez se fossemos adolescente e inconsequentes, talvez se não estivéssemos aqui. Mas depois de uma certa idade, aprende-se a respeitar certas coisas. Compromisso sérios e relações homem-mulher, quando já se passou por algumas situações ou conviveu próximo a elas, sabe-se que deve-se tomar cuidado.

E tomamos, não fomos adiante. Quando voltei a Kyoto, sentamos em um banquinho de praça, abrimos nossos corações e concordamos que por mais tentador que seja, é óbvio o que temos que fazer. Continuar como se nada tivesse acontecido. E nunca contar pra ninguém. Pelo menos não citando nomes ou qualquer referência que possa cruzar informações. Trato feito, corações partidos, nos vemos por aí.

Yokohama é ótima, o porto e o mar chamam sua alma.
Nada Surf vai ser sempre importante pra mim.
Beber sempre ajuda.

heh.

Um comentário:

João Rodrigues Jr. disse...

Grande. É bom ser escuso, abraçado e acolhido pela Língua Portuguesa, né não?

Depois de tudo, lógico. ;)