20110528

Eletrônica

Meu avô me ensinou a soldar. Ele é bem definido pelo termo handyman ou melhor em português moderno e não traduzindo a expressão anterior, multifuncional. Tudo ele sabe consertar, encanamento, fiação, etc. Essas coisas de casa que não requerem conhecimento super profundo, que na pior das hipóteses uma gambiarra temporária resolve. Ele fez um curso de eletrônica nos anos 70 e montou um rádio em uma caixa de madeira, o único desvirtuamento do honorável é que design não é forte dele, se fosse engenheiro seria bem à moda antiga: funcionalidade antes da beleza.

Mas como eu dizia ele me ensinou, pedia para eu segurar dois fios enquanto ele soldava, na verdade eu não entendia bem e achava aquilo meio chato, mas adorava mexer nas ferramentas dele enquanto ele explicava como as coisas funcionavam. Um simples teste de corrente foi montado com dois fios correndo por dentro de duas canetas bic, soldados nas pontas destas e com as outras extremidades em uma antiga lâmpada azul, tipo aquelas de arraial. Era legal ver duas canetas que podiam acender uma lâmpadazinha diferente e ouvir a satisfação dele ao dizer: está funcionando.

Eu lembro que ele tinha um balcão de ferramentas no quintal da casa, que anos depois veio abaixo por se tornar um viveiro de baratas e aranhas. Para mim era o máximo aquilo, uma mistura de porão de filmes com casa mal-assombrada. Apesar de muitas vezes não querer ajudá-lo (fazia-o obrigado) peguei gosto pela coisa da multifuncionalidade. Esqueci de dizer que ele era professor de matemática do ensino fundamental que na época em que ele se aposentou ainda era chamado de primeiro grau. Hoje ele curte uma aposentadoria não muito excitante, com problemas da enorme família de 11 filhos e muitos netos pra se preocupar e seus estudos da Bíblia (católico old school).

Enfim, Vovô me passou um gosto danado por desparafusar, soldar, colar, pregar, desmantelar, colocar tudo de volta, ver a luzinha acender e dizer: está funcionando. E sempre me envolvi com a coisa. Desmontava meus carrinhos de autorama pra entender o motorzinho, abria os video-games e cartuchos que travavam , via aquela placa, não entendia nada mas tirava a poeira e fechava de novo. Mais tarde, quando a música me deu uma epifania absurda que até hoje pulsa como um segundo coração, me virava e revirava para fazer cabos que me permitiam gravar músicas dos programas gravados em video-cassete para fitas K-7, ou até mesmo trilhas sonoras de jogos.

Lembra?

Alguns anos depois montei meu primeiro pedal de guitarra, seguindo instruções da internet que me levaram a estudar capacitores, diodos e cia. só para entender e saber exatamente o que comprar. Já podia montar e desmontar computadores sem medo.
O famoso Vaquinha Delay


Hoje eu troco o display de toque do meu iphone em meia hora, coloco uma nova firmware no xbox e até modifico o sistema com algumas soldas e dois diodos. Compro consoles usados, conserto-os e os revendo a amigos. Raramente preciso jogar equipamento fora.

E acho isso o maior barato, sou um amador, até algum tempo atrás não sabia explicar a diferença entre corrente e voltagem, ainda apanho quando as soldas são muito pequenas e vez ou outra danifico alguma coisa permanentemente. Mas exploro e me divirto com isso. O desafio faz as mão tremerem e a falta de certas ferramentas é compensada com clips, facas, malabarismos e uma mão amiga quando possível.

Acho que se valoriza mais as coisas quando se tem esforço para mantê-las funcionando, não por uma questão financeira, mas pelo simples fato de não deixar algo consertável em um estado inutilizável.

Meu amigo e irmão Lincoln também anda nessas trilhas, sabe até mais do que eu. Outras pessoas ao meu redor têm o mesmo gosto pelo xeretamento. É algo legal de se fazer e compartilhar.

E tu? Que fazes tu?

Só sei que devez fazer bem :)

Um comentário:

João Rodrigues Jr. disse...

Fala Alex! Fiquei muito feliz quando vi o blog voltar à ativa. Eu só soube que você tinha estado aqui depois que você foi embora. O Thiago (a.k.a. garoto Beethoven) me contou. Meu número continua o mesmo e eu também. rs Abraço!