20110820

Cápsula do Tempo

2000

Eu tinha 17, tinha começado a estudar na Ulbra por que não tinha passado na UFAM (então UA). As pessoas lá eram legais comigo, a maioria gente com mais de 30 que estava batalhando um diploma para melhorar de vida. Eles riam da minha inocência mas sempre me encorajavam. Eu não sabia que no ano seguinte estaria na UFAM, que um daqueles caras iria morrer de derrame, que eu não iria ver quase ninguém de lá por muito muito tempo. E que um dos meus colegas de classe seria namorado da minha mãe cinco ou seis anos depois. Foi bom por que as pessoas me tratavam bem em geral, eu me sentia aceito no mundo adulto.

Era a melhor parte do meu dia durante 6 meses em que trabalhei na Semp-Toshiba como estagiário, arranjado por uma amiga de minha mãe. Ali eu tinha que organizar infinitos documentos e aturar as picuinhas do Distrito Industrial de Manaus. Aprendi algumas coisas ali mas na maior parte do tempo detestava tudo e todos. Aprendi a enrolar no arquivo, já que quando eu cumpria com meus deveres em tempo ninguém gostava. Pisei lá novamente somente uma vez. Não sabia que o pessoal de lá me ligaria no dia em que o resultado da UFAM saiu no rádio, anunciando a noticia que daria rumo a minha vida. Muitos anos depois soube que as coisas ficaram ainda mais complicadas por lá e apesar de tudo fiz alguns amigos que encontrei depois de algum tempo.

Namorava a Adriana, minha primeira namorada. Um amor de menina, estudante da ETFAM. Nos conhecemos em um mini-curso sobre meio ambiente no Parque do Mindú. Eu iria visitá-la na ETFAM com freqüência. Nunca iria na casa dela e receberia um telefonema zangado da mãe dela por causa de algumas marcas de beijo. Terminaria com ela 7 ou 8 meses depois, principalmente por causa da minha falta de entendimento de muitas coisas sobre relacionamentos. Somos amigos até hoje apesar de não nos falarmos com freqüência. Ela deve ter um diploma de psicologia nestas alturas, naquela época ela estudava meio-ambiente. Tive um tempo ótimo com ela, primeira namorada que deixa saudades.

Baixava músicas pelo Napster na Ulbra ou em casa, quando o IG começou. Era tão difícil completar um arquivo e muitas vezes tinha que zipar em três disquetes para levar para casa. Gravava as minguadas músicas em fita k7, adaptando o rádio ao computador. Emprestava cd's e ouvia tudo o que podia no meu walkman comprado com o pouco dinheiro do estágio. No ano seguinte o Audio Galaxy me faria mais feliz e eu conheceria mais gente que podia me ensinar sobre música. Tinha um violão que seria roubado 4 anos depois. Já era louco por quadrinhos, adorava Conan.

Tinha parado de ir na Praça do Congresso às sextas-feiras por causa da Ulbra mas ainda encontrava meus amigos do rock com freqüência. Minha mãe enlouquecia quando eu chegava "tarde" (depois das 23 horas). Dez anos depois eu entenderia os sentimentos dela de uma maneira inesperada (nada a ver com um filho ou algo do tipo). A partir do ano seguinte tive a tão esperada liberdade dos 18. Minha mãe não larga do meu pé até hoje, mesmo eu estando do outro lado do mundo.

Se eu tivesse feito uma cápsula do tempo naqueles dias... Ei riria e amaria aquele rapazinho magrelo e espantado com tudo, que espremia seu tempo entre trabalho, estudo, namorada, dois irmãos e uma mãe e um casal de cachorros que morreriam 5 anos mais tarde em um dia qualquer. Enterrei-os no quintal de casa, que agora é cimentado.

Eu me vejo há 11 anos atrás e eu sorrio, os primeiros passos são sempre emocionantes e deixam uma saudade gostosa daquela falta de noção de tudo e de todos. E agora eu divido com vocês.

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